terça-feira, 27 de março de 2007

Chuva

Esta caindo lá fora uma dessas chuvas passageiras. Como toda chuva assim ela chegou de repente, sem avisar, rápida e intensa. Sinto o cheiro de poeira levantada e recordo a velha infância na fazenda; tantas lembranças boas passam em flash a minha cabeça, filme bom.

Pronto não foi o tempo de cinco minutos e ela se foi deixando o gosto das boas lembranças comigo. "Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida...".

O vento agora sopra fininho trazendo consigo uma fria brisa. Saudades de um amor...

A magia se foi, por completo, com a chuva e seus breves instantes seguintes. De volta a realidade.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Cobras

Hoje amanheci aborrecida com as notícias do nosso dia dia. Vê se pode a gente ainda tem que ficar mal por conta das coisas ruins. Falei então com uma amiga, ela abriu meus olhos; Não temos muito com que nos revoltar com o intangível; Vamos nos ater as coisas que podemos mudar. Relaxei depois do papo e comecei a procurar coisas boas e me deparei com uma fantástica.
Vocês lembram das cobras de Érico Veríssimo? Elas estão de volta no site do Terra são hilárias, um jeito legal de passar o verbo. Trouxe uma para vocês. Enjoy:

Foto: Reprodução

São Paulo, 09/10/2006 - Tira originalmente publicada no dia 9 de outubro


http://terramagazine.terra.com.br/

terça-feira, 20 de março de 2007

Desabafo de uma sobrevivente

Difícil não é só compor um poema como ilustrado abaixo por Drumonnd. Difícil é encontrar a razão nos dias de hoje. Razão do porquê de tanta coisa ruim e para tamanha falta de amor - palavra riscada dos dicionários.
Procurem lá no Aurélio;
amor: Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem.
Sentimento? Bem? Outrem? Não há sentimento, o mundo esta frio, congelou com o bem e deve pertencer seguramente a outrem.
Vivemos em uma nova era glacial onde o único gelo real esta derretendo, mas não de amor e sim pela falta dele. Somos todos sobreviventes desta guerra indeclarada (sei que não existe a palavra, mas foi a melhor que encontrei). Até quando?

O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 16 de março de 2007

Aos que virão depois de nós - Parte II

Devido aos acontecimentos que marcam nosso tempo e por não dizer dos últimos tempos cabe postar a segunda parte de Bertolt Brecht por Manuel Bandeira:


Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
e não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.

(Bertolt Brecht - Tradução de Manuel Bandeira)

quinta-feira, 8 de março de 2007

Mullher

Nesse dia em que é festejada a mulher eu vos trago uma leitura magnífica. Perdoe-me os religiosos, não tive intenção de provocar, mas é tão bela que não hesitei em publicar.
É grande, eu sei. Mas, somos grandiosas; não se pode com pouco nos descrever.

Discurso de Deus a Eva
Millôr Fernandes


"... Eva, de repente, descobrindo uma bela cascata, resolveu tomar um banho de rio. A criação inteira veio então espiar aquela coisa linda que ninguém conhecia. E quando Eva saiu do banho, toda molhada, naquele mundo inaugural, naquela manhã primeval, estava realmente tão maravilhosa que os anjos, arcanjos e querubins, ao verem a primeira mulher nua sobre a Terra, não se contiveram, começaram a bater palmas e a gritar, entusiasmados: "O AUTOR! O AUTOR! O AUTOR!".

"P.S. - Este discurso do Todo-Poderoso está sendo divulgado pela primeira vez em todos os tempos, aqui neste livro. Nunca foi publicado antes, nem mesmo pelo seu órgão oficial, A BÍBLIA."


"Minha cara,

eu te criei porque o mundo estava meio vazio, e o homem, solitário. O Paraíso era perfeito e, portanto, sem futuro. As árvores, ninguém para criticá-las; os jardins, ninguém para modificá-los; as cobras, ninguém para ouvi-las. Foi por isso que eu te fiz. Ele nem percebeu e custará os séculos para percebê-lo. É lento, o homenzinho. Mas, hás de compreender, foi a primeira criatura humana que fiz em toda a minha vida. Tive que usar argila, material precário, embora maleável. Já em ti usei a cartilagem de Adão, matéria mais difícil de trabalhar, mais teimosa, porém mais nobre. Caprichei em tuas cordas vocais, poderás falar mais, e mais suavemente. Teu corpo é mais bem acabado, mais liso, mais redondo, mais móvel, e nele coloquei alguns detalhes que, penso, vão fazer muito sucesso pelos tempos a fora. Olha Adão enquanto dorme; é teu. Ele pensara que és dele. Tu o dominarás sempre. Como escrava, como mãe, como mulher, concubina, vizinha, mulher do vizinho. Os deuses, meus descendentes; os profetas, meus public-relations, os legisladores, meus advogados; proibir-te-ão como luxúria, como adultério, como crime, e até como atentado ao pudor! Mas eles próprios não resistirão e chorarão como santos depois de pecarem contigo; como hereges, depois de, nos teus braços, negarem as próprias crenças; como traidores, depois de modificarem a Lei para servir-te. E tu, só de meneios, viverás.

Nasces sábia, na certeza de todos os teus recursos, enquanto o Homem, rude e primário, terá que se esforçar a vida inteira para adquirir um pouco de bens que depositará humildemente no teu leito. Vai! Quando perguntei a ele se queria uma Mulher, e lhe expliquei que era um prazer acima de todos os outros, ele perguntou se era um banho de rio ainda melhor. Eu ri. O homem e um simplório. Ou um cínico. Ainda não o entendi bem, eu que o fiz, imagina agora os seus semelhantes.

Olha, ele acorda. Vai. Dá-me um beijo e vai. Hmmmm, eu não pensava que fosse tão bom. Hmmmm, ótimol Vai, vai! Não é a mim que você deve tentar, menina! Vai, ele acorda. Vem vindo para cá. Olha a cara de espanto que faz. Sorri! Ah, eu vou me divertir muito nestes próximos séculos!"

Texto do livro "Esta é a verdadeira história do Paraíso".

terça-feira, 6 de março de 2007

Aos que virão depois de nós - Parte I

Para refletirmos sobre nosso tempo, pois o futuro é agora. Cabe a nós fazermos dele algo melhor. Tenham uma boa leitura. Com vocês Bertolt Brecht por Manuel Bandeira:


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.

(Bertolt Brecht - Tradução de Manuel Bandeira)

segunda-feira, 5 de março de 2007

Rapidinha

Cota Zero
Carlos Drummond de Andrade

Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?

http://www.carlosdrummond.com.br/

sexta-feira, 2 de março de 2007

Amor

Estava sem idéias para escrever aqui. Vivi dias cheios e corridos sem tempo para quase nada, afora as obrigações do dia dia. Mas, hoje eu vi um filme lindo e recomendo: A Casa do Lago. Lindo pela beleza de sua plástica e, principalmente, pela simplicidade de suas mensagens. Nesse corre corre em que nos encontramos vamos deixando passar a beleza das coisas puras. Não somos mais capazes de apreciar uma refeição, engolimos. Não nos permitimos olhar o sol ao amanhecer, nem tão pouco se pôr; horas mágicas e momentos de extrema beleza. Nossos amores, se é que assim podemos chamar as relações atuais, tão incertas e cheias de desconfiança; essas não duram, não ficam e sempre estamos buscando... a tal felicidade.
Em homenagem ao amor que luta escondido em algum lugar, eu trago a vocês esta poesia de alguém que soube descrevê-lo com simplicidade e magia.

Soneto da fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

http://www.viniciusdemoraes.com.br/