terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A que ama o mar

Eu te conheço desde sempre
Foi ontem, mas parece sempre.

Eu não te conheço, não por inteiro
Não tivemos tempo de nos conhecer.

Eu te conheço só um pouco
Mas, é o bastante para te admirar.

Espanta a mim o quanto eu gosto de te conhecer
Espanta pouco, porque eu te conheço desde sempre.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Dia Especial

Hoje a turma do Churras foi passar parte do dia na Creche Orfanato Minha Vô Flor. E eu só tenho algumas fotos a mostrar e essas palavras a dizer com a ajuda do pai do Meu Pequeno Príncipe:

ACASO

Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.

Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.

Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.

Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.

Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Minha Agenda

Minha agenda está cheia.

Desde o primeiro dia de dezembro estou procurando espaço na minha agenda.

Minha agenda invade a semana, os fins de semana, os dias úteis e feriados.

Minha agenda está cheia.

Minha agenda tem aniversários, casamentos, encontros, reencontros, confraternizações, boas ações, Natal e Reveillon.

Minha agenda está cheia.

Estico daqui e puxo de lá e encaixo uma visita de ultima hora, um chops, um mousse de chocolate, uma caminhada, uma risada, um aperto de mão, um telefonema, até briga e reconciliações cabem na minha agenda cheia.

Ela está cheia de amigos, pois sem eles minha agenda seria uma agenda vazia.

Escrevo hoje...

Escrevo hoje como alguém que tem passado. Não pesado e cansado, mas vivido e compreendido, mastigado e digerido, com defeitos e qualidades.

Escrevo hoje como alguém que pode olhar para trás e sentir falta apenas de não poder estar tão presente.

Escrevo como quem tem saudades das horas vividas e das noites perdidas, só por não dormir, mas ganhas de convivência, de troca e de aprendizagem.

Escrevo como quem tem amigos que subitamente me apertam o coração quando os encontro em baús envelhecidos de fotos ou até quando os vejo em outdoors. Ah! Meus amigos são grandes.

Escrevo hoje ... como quem vive porque somos aquilo que construímos.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Hoje

Hoje eu vou andar por ai só pra ver se é igual à lá.
Igual eu sei que não é, mas mesmo assim eu vou andar... só pra ver.

Hoje eu vou nadar por ai só pra ver se é igual à lá.
Igual eu sei que não é, mas mesmo assim eu vou nadar... só pra ver.

Hoje eu andei e nadei por ai era só pra ver se era igual à lá.
Igual não foi, mas mesmo assim eu andei e nadei... nada vi.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

"Estamos com fome de amor"

O título desta postagem pertence a Arnaldo Jabor, assim como, o texto abaixo que não me canso de ler e reler. Penso que seja porque me identifiquei demais com o conteúdo. Eu recomendo. Segue:

Estamos com fome de amor

Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas, ou em bandos de garotas sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos. Existe uma falsa alegria nos rostos dessa gente. Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos 'personal dance', incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida? É só ver o que se faz nos estacionamentos dessas mesmas baladas - quando mais longe e escuro, melhor para o casal.

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão 'apenas' dormir abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.

Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a 'sentir', só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós. Tínhamos a felicidade ao nosso lado e hoje a perdemos, por puro egoísmo de nossa parte, por deixarmos que ela se vá através de nossas mãos.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como: 'Quero um amor pra vida toda!', 'Eu sou pra casar!' até a desesperançada 'Nasci pra ser sozinho!' Unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa.

Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega. E ainda existem pessoas que acabam achando que o carinha legal da balada é o homem ou a mulher de sua vida. Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí?

Seja ridículo, não seja frustrado, 'pague mico', saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso à dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: 'vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida'.

Saudades!!!!

Ah! Tanto tempo longe que loucura. Muita coisa aconteceu de maio para cá; muita coisa mesmo.

Ocorreu meu aniversário em maio. Já estou com trinta; e não pesa. Muito bom ter trinta, mas falo sobre isso depois.

Em junho apresentei minha monografia de conclusão de curso. Ufa!! Uma mistura muito doida de sentimentos. Começou com um nervosismo que consumia minhas unhas (era eu mesma roendo. rsrsr) e foi evoluindo para um aperto no estômago até que como se não tivesse acontecendo nada tudo passou e só alegria. O melhor de tudo foi ter minhas amigas a meu lado e ver a emoção nos olhos delas; sem contar com meu colega de monografia que não se conteve de felicidade; e é claro com o contentamento de minha família.

Em julho foi minha colação de grau. Foi maravilhoso!!!!! É maravilhoso!!!!!

De agosto para cá passei a andar com uma turma pra lá de legal e, certamente, terei histórias dela para contar. Em resumo é isso ai agora vamos continuar....

sábado, 19 de maio de 2007

"Tô nem ai"

Olha a realidade ai gente. Classe média no Brasil:

domingo, 22 de abril de 2007

Amigos

Bate em meu peito uma saudade imensa
ela rasga e aperta fazendo meu coração doer.
Vem a lembrança os momentos inesquecíveis; e foram tantos.

Hoje mais um se foi para outro lado do atlântico, boa viagem amigo. Inevitável, elas rolam a minha face. Calmas e suaves nada exageradas.

Tem meses que são assim; meses que ela pega a gente de jeito deixando esse nó na garganta. Mas, ai vem um diz: levanta.

Então, bate em meu peito um felicidade imensa
ela invade e preenche fazendo meu coração sorrir.
Vem a lembrança os momentos inesquecíveis; e são tantos.

(Meu amigo Maro, tudo de bom)

sábado, 21 de abril de 2007

A Flor

Suspeita, eu, ao falar de flor, mas não vim falar gostaria que vocês escutassem. É isso mesmo, escutar A Flor; essa música lindíssima dos Los Hermanos. Estou aqui a copiar descaradamente esse clipe que vi no Orkut de uma pessoa maravilhosa que me surpreende todos os dias. Obrigado meu lindo pelas palavras hoje. Quero compartilhar com vocês.




Los Hermanos

sexta-feira, 13 de abril de 2007

O Quinto Evangelho

Eu sei que a data comemorativa da Páscoa passou, mas não posso evitar de compartilhar com vocês este texto maravilhoso que foi postado por um colega bloguista na Páscoa do ano passado. O texto fala de fé, amor, Deus e tudo que Ele deixou para nós. Leiam com sabedoria e mente aberta.

Aos discrentes eu garanto que é uma leitura construtiva. Vale a pena.

http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2005/03/o_evangelho_de.html


Muita PAZ!

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Páscoa

Não sabia que era tão difícil falar sobre a Páscoa tão a costumada aos ovos de chocolate e comilanças habituais que o significado maior se perdeu. Na verdade hoje ouvindo minha tia já velhinha (a cabeça sempre jovem), pude ver o quanto não há mais significado nas festas cristãs. Penso que em nenhuma das outras religiões também.

Ela disse sabiamente: nada é mais como antigamente, ninguém liga para essas coisas. Foi-se o tempo.

Comemos e oramos agradecendo por mais uma Páscoa juntos, lembramos os que nesta vida não mais estão em nossa companhia e os que estão.

Penso que Páscoa é isso. Então comemoremos nestes dias a libertação da vida. Porque, Ele esta vivo! Ele esta no meio de nós!

PS: Hoje sem poesia. Mas, uma dica boa, a oração universal, o Pai nosso!

terça-feira, 27 de março de 2007

Chuva

Esta caindo lá fora uma dessas chuvas passageiras. Como toda chuva assim ela chegou de repente, sem avisar, rápida e intensa. Sinto o cheiro de poeira levantada e recordo a velha infância na fazenda; tantas lembranças boas passam em flash a minha cabeça, filme bom.

Pronto não foi o tempo de cinco minutos e ela se foi deixando o gosto das boas lembranças comigo. "Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida...".

O vento agora sopra fininho trazendo consigo uma fria brisa. Saudades de um amor...

A magia se foi, por completo, com a chuva e seus breves instantes seguintes. De volta a realidade.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Cobras

Hoje amanheci aborrecida com as notícias do nosso dia dia. Vê se pode a gente ainda tem que ficar mal por conta das coisas ruins. Falei então com uma amiga, ela abriu meus olhos; Não temos muito com que nos revoltar com o intangível; Vamos nos ater as coisas que podemos mudar. Relaxei depois do papo e comecei a procurar coisas boas e me deparei com uma fantástica.
Vocês lembram das cobras de Érico Veríssimo? Elas estão de volta no site do Terra são hilárias, um jeito legal de passar o verbo. Trouxe uma para vocês. Enjoy:

Foto: Reprodução

São Paulo, 09/10/2006 - Tira originalmente publicada no dia 9 de outubro


http://terramagazine.terra.com.br/

terça-feira, 20 de março de 2007

Desabafo de uma sobrevivente

Difícil não é só compor um poema como ilustrado abaixo por Drumonnd. Difícil é encontrar a razão nos dias de hoje. Razão do porquê de tanta coisa ruim e para tamanha falta de amor - palavra riscada dos dicionários.
Procurem lá no Aurélio;
amor: Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem.
Sentimento? Bem? Outrem? Não há sentimento, o mundo esta frio, congelou com o bem e deve pertencer seguramente a outrem.
Vivemos em uma nova era glacial onde o único gelo real esta derretendo, mas não de amor e sim pela falta dele. Somos todos sobreviventes desta guerra indeclarada (sei que não existe a palavra, mas foi a melhor que encontrei). Até quando?

O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 16 de março de 2007

Aos que virão depois de nós - Parte II

Devido aos acontecimentos que marcam nosso tempo e por não dizer dos últimos tempos cabe postar a segunda parte de Bertolt Brecht por Manuel Bandeira:


Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
e não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.

(Bertolt Brecht - Tradução de Manuel Bandeira)

quinta-feira, 8 de março de 2007

Mullher

Nesse dia em que é festejada a mulher eu vos trago uma leitura magnífica. Perdoe-me os religiosos, não tive intenção de provocar, mas é tão bela que não hesitei em publicar.
É grande, eu sei. Mas, somos grandiosas; não se pode com pouco nos descrever.

Discurso de Deus a Eva
Millôr Fernandes


"... Eva, de repente, descobrindo uma bela cascata, resolveu tomar um banho de rio. A criação inteira veio então espiar aquela coisa linda que ninguém conhecia. E quando Eva saiu do banho, toda molhada, naquele mundo inaugural, naquela manhã primeval, estava realmente tão maravilhosa que os anjos, arcanjos e querubins, ao verem a primeira mulher nua sobre a Terra, não se contiveram, começaram a bater palmas e a gritar, entusiasmados: "O AUTOR! O AUTOR! O AUTOR!".

"P.S. - Este discurso do Todo-Poderoso está sendo divulgado pela primeira vez em todos os tempos, aqui neste livro. Nunca foi publicado antes, nem mesmo pelo seu órgão oficial, A BÍBLIA."


"Minha cara,

eu te criei porque o mundo estava meio vazio, e o homem, solitário. O Paraíso era perfeito e, portanto, sem futuro. As árvores, ninguém para criticá-las; os jardins, ninguém para modificá-los; as cobras, ninguém para ouvi-las. Foi por isso que eu te fiz. Ele nem percebeu e custará os séculos para percebê-lo. É lento, o homenzinho. Mas, hás de compreender, foi a primeira criatura humana que fiz em toda a minha vida. Tive que usar argila, material precário, embora maleável. Já em ti usei a cartilagem de Adão, matéria mais difícil de trabalhar, mais teimosa, porém mais nobre. Caprichei em tuas cordas vocais, poderás falar mais, e mais suavemente. Teu corpo é mais bem acabado, mais liso, mais redondo, mais móvel, e nele coloquei alguns detalhes que, penso, vão fazer muito sucesso pelos tempos a fora. Olha Adão enquanto dorme; é teu. Ele pensara que és dele. Tu o dominarás sempre. Como escrava, como mãe, como mulher, concubina, vizinha, mulher do vizinho. Os deuses, meus descendentes; os profetas, meus public-relations, os legisladores, meus advogados; proibir-te-ão como luxúria, como adultério, como crime, e até como atentado ao pudor! Mas eles próprios não resistirão e chorarão como santos depois de pecarem contigo; como hereges, depois de, nos teus braços, negarem as próprias crenças; como traidores, depois de modificarem a Lei para servir-te. E tu, só de meneios, viverás.

Nasces sábia, na certeza de todos os teus recursos, enquanto o Homem, rude e primário, terá que se esforçar a vida inteira para adquirir um pouco de bens que depositará humildemente no teu leito. Vai! Quando perguntei a ele se queria uma Mulher, e lhe expliquei que era um prazer acima de todos os outros, ele perguntou se era um banho de rio ainda melhor. Eu ri. O homem e um simplório. Ou um cínico. Ainda não o entendi bem, eu que o fiz, imagina agora os seus semelhantes.

Olha, ele acorda. Vai. Dá-me um beijo e vai. Hmmmm, eu não pensava que fosse tão bom. Hmmmm, ótimol Vai, vai! Não é a mim que você deve tentar, menina! Vai, ele acorda. Vem vindo para cá. Olha a cara de espanto que faz. Sorri! Ah, eu vou me divertir muito nestes próximos séculos!"

Texto do livro "Esta é a verdadeira história do Paraíso".

terça-feira, 6 de março de 2007

Aos que virão depois de nós - Parte I

Para refletirmos sobre nosso tempo, pois o futuro é agora. Cabe a nós fazermos dele algo melhor. Tenham uma boa leitura. Com vocês Bertolt Brecht por Manuel Bandeira:


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.

(Bertolt Brecht - Tradução de Manuel Bandeira)

segunda-feira, 5 de março de 2007

Rapidinha

Cota Zero
Carlos Drummond de Andrade

Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?

http://www.carlosdrummond.com.br/

sexta-feira, 2 de março de 2007

Amor

Estava sem idéias para escrever aqui. Vivi dias cheios e corridos sem tempo para quase nada, afora as obrigações do dia dia. Mas, hoje eu vi um filme lindo e recomendo: A Casa do Lago. Lindo pela beleza de sua plástica e, principalmente, pela simplicidade de suas mensagens. Nesse corre corre em que nos encontramos vamos deixando passar a beleza das coisas puras. Não somos mais capazes de apreciar uma refeição, engolimos. Não nos permitimos olhar o sol ao amanhecer, nem tão pouco se pôr; horas mágicas e momentos de extrema beleza. Nossos amores, se é que assim podemos chamar as relações atuais, tão incertas e cheias de desconfiança; essas não duram, não ficam e sempre estamos buscando... a tal felicidade.
Em homenagem ao amor que luta escondido em algum lugar, eu trago a vocês esta poesia de alguém que soube descrevê-lo com simplicidade e magia.

Soneto da fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

http://www.viniciusdemoraes.com.br/

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Help

Hoje o dia amanheceu cinza em Salvador estamos entrando no quarto dia de folia carnavalesca e já rolou de tudo nessa cidade. Estou em casa vendo filmes e conectada a Internet quase 24hs, talvez hoje neste dia assim cinzento eu saia.

Trouxe para vocês uma música que para mim é um verdadeiro poema, na verdade, todas as músicas deles são poesias. Esta representa um pouco do meu atual estado de espírito, “I need somebody... not just anybody”.



http://www.beatles.com/

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Drummond

Nesta minha primeira postagem, trago para vocês um poema de Drumond. A beleza desse poema não está apenas nos versos de nosso poeta, mas também a quem ele o dedica. Drumond fala da beleza das fotografias de um fotógrafo a quem é intitulado o poema. Fotógrafo esse que me orgulho de conhecer e de chamar de tio, e que mesmo longe e mesmo diante dos conflitos continuo a amar e admirar. O poema:

Diante das Fotos de Evandro Teixeira
Carlos Drummond de Andrade

A pessoa, o lugar, o objeto
estão expostos e escondidos
ao mesmo tempo só a luz,
e dois olhos não são bastantes
para captar o que se oculta
no rápido florir de um gesto.


É preciso que a lente mágica
enriqueça a visão humana
e do real de cada coisa
um mais seco real extraia
para que penetremos fundo
no puro enigma das figuras.

Fotografia - é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando
e da evanescência de tudo,
edifica uma permanência,
cristal do tempo no papel.

Das luas de rua no Rio
em 68, que nos resta
mais positivo, mais queimante
do que as fotos acusadoras,
tão vivas hoje como então,
a lembrar como a exorcizar?

Marcas de enchente e do despejo,
o cadáver insepultável,
o colchão atirado ao vento,
a lodosa, podre favela,
o mendigo de Nova York
a moça em flor no Jóquei Clube,

Garrincha e nureyev, dança
de dois destinos, mães-de-santo
na praia-templo de Ipanema,
a dama estranha de Ouro Preto,
a dor da América Latina,
mitos não são, pois são fotos.

Fotografia: arma de amor,
de justiça e conhecimento,
pelas sete partes do mundo
a viajar, a surpreender
a tormentosa vida do homem
e a esperança a brotar das cinzas.

( in "Amar se aprende amando")

http://www.evandroteixeira.net